VOCÊ É SENSÍVEL DEMAIS
Intensidade não é demais, é a medida exata de quem sente o mundo inteiro por dentro.
Ei… fica um pouco.
Hoje escrevo com o peito aberto, pra quem já se sentiu demais e, por isso, tentou caber menos.
Por aqui, intensidade não é exagero. É a forma mais honesta de existir.
E se você também sente fundo, que essas palavras te encontrem como brisa: suaves, mas cheias de verdade.
Entra devagar.
Tem espaço pra ti aqui.
O PESO DE UMA SIMPLES FRASE
“Você é sensível demais.”
Talvez essa tenha sido a frase que mais me feriu por dentro, em silêncio.
Eu sentia demais, falava pouco, calava fundo.
E cada vez que eu ouvia isso, não como cuidado, mas como crítica, era como uma agulha lenta, costurando uma dor silenciosa por dentro, principalmente por ser homem, porque entre homens, sentir ainda é visto como falha na armadura.
Gentileza soa como fraqueza, doçura, como desvio.
Crescemos ouvindo que rosa é de menina e azul é de menino, que a força precisa ser bruta, que ternura não combina com firmeza.
Mas será mesmo? Será que força e doçura não podem existir no mesmo corpo? No mesmo gesto? Na mesma alma?
SIM.
Doçura e força podem existir juntas e quando existem, transformam tudo ao seu redor.
OS CORTES QUE A GENTE NUNCA ESQUECE
A primeira vez foi no ensino médio, e não veio de um menino mas sim de uma menina.
Era outono, estávamos sentados na escadaria da escola, tomando sol, e minha colega, por quem eu tinha imenso carinho, olhou no fundo dos meus olhos e disse:
“Você é sensível demais.”
Mas, naquele momento, não havia nada na conversa que levasse a isso, ela apenas me olhou, fundo, e soltou aquela frase, como quem diz, sem precisar dizer: isso não é bom.
Foi o primeiro corte no meu coração, depois dele, outros vieram, de vozes inesperadas, de lugares que eu achava seguros.
UM AFETO MAL INTERPRETADO
A segunda vez que me marcou veio anos depois, quando eu trabalhava em uma loja de móveis e decoração.
Tinha uma relação de confiança e carinho com a proprietária da loja, mulher sensível mas de uma firmeza admirável, sensível, mas inteira, como tantas com quem criei laços ao longo da vida.
Na prática, eu atuava como uma espécie de assistente particular dela , era quem desenvolvia os projetos de interiores para os clientes e enviava para seu e-mail, já que ela morava em outra cidade e administrava outra loja além daquela onde eu trabalhava, e eu desenvolvia os projetos para as duas lojas.
Nos e-mails que trocávamos, havia leveza e afeto. Eu a chamava de “Realeza”, ela adorava isso, mas um dia, o gerente leu nossas conversas e me chamou em particular:
“Isso não é profissional, responda só o necessário.’’
Após isso, eu me calei, me silenciei, e então ele me chamou novamente e disse que eu era sensível demais.
Dessa vez doeu mais, porque me fez duvidar de mim, me fez achar que tinha algo errado no meu jeito de ser.
A DOR DE SE MOLDAR PRA CABER
Naquele dia, ele não viu os projetos impecáveis que eu entregava, nem as horas extras, nem o cuidado em todo trabalho que desenvolvia, ele viu apenas uma sensibilidade que, pra ele, não tinha lugar no mundo do trabalho.
E eu comecei a acreditar nisso, comecei a achar que precisava esconder, ajustar, consertar, me tornei menos, mas por dentro, seguia sentindo tudo, só que em silêncio.
UM ELO QUE ME SALVOU
Talvez por isso, desde sempre, eu tenha me sentido mais à vontade entre as mulheres.
Eu sei… Ainda faltam tantas. Tantas que deveriam estar aqui, mas a verdade é que não existe mural que comporte o tamanho do afeto.
Cada mulher que passou pela minha vida deixou algo, uma palavra, um gesto, um silêncio bonito, uma coragem quieta, e ajudou a desenhar os muitos rascunhos de quem eu sou.
Esse mural é só um recorte, um sopro de gratidão, uma forma de dizer que foram, e são, elo, abrigo e ponte. Essa é uma pequena homenagem às grandes mulheres que me atravessaram…
e às que agora me leem, com o coração aberto. 🧡🍂
Enquanto os meninos, na escola, gastavam o tempo fazendo piada uns com os outros, puxando a mochila do colega para transformá-la em bola de basquete, pisando no tênis branco novo do colega… as meninas . . . conversavam.
Sobre as matérias, sobre a vida, elas já tinham uma profundidade ali, uma maturidade que me espelhava, e eu me sentia em casa.
Sempre achei que as mulheres amadurecem mais cedo que os homens, talvez pela história de luta, por precisarem se afirmar num mundo que ainda insiste em calá-las. Talvez porque, entre elas, sentir nunca foi motivo de vergonha.
Foi nesse elo, nessa ligação silenciosa, que encontrei respiro.
A INTENSIDADE TAMBÉM É LINGUAGEM
Com o tempo, entendi que não há nada de errado em ser sensível demais.
Ser sensível demais é como viver com o peito voltado pro sol, é ver o mundo pela alma, não só pelos olhos, é reconhecer que intensidade não é peso, é presença, é o que ancora a gente no agora.
NÃO É EXAGERO, É ESSÊNCIA
Hoje entendo que: Sentir muito não é falha, é escuta, é resposta, é como eu sei que estou vivo.
A intensidade me ensinou a perceber beleza onde ninguém vê, a transformar folhas caindo em símbolo de recomeço.
A olhar pra mim com mais gentileza.
A SENSIBILIDADE QUE FLORESCE
Aos 41 anos — quase 42 — sigo sendo sensível demais, e sou grato por isso.
Foi a intensidade que me fez construir amizades verdadeiras, desenvolver meu olhar e cultivar afeto onde passo.
Uma folha caída não é só uma folha, é a vida se renovando bem diante de nós.
E eu, como ela, sigo me despindo das roupagens que já não servem mais, pra dar espaço ao que ainda vai florescer.
SER SENSÍVEL É SER INTEIRO
Ser sensível demais não é ser menos homem;
Não é ser menos profissional;
Não é ser frágil demais;
É só ser humano por inteiro.
E sim, há homens intensos, muitos, mas ainda escondem isso atrás de silêncios duros, porque aprenderam que não podiam sentir.
A INTENSIDADE ABRE PORTAIS
Sim, ser sensível pode fechar portas, mas também abre portais.
Te convida a viver com mais verdade, a enxergar com mais profundidade, a amar com mais presença, a olhar de dentro pra fora.
Se você também sente fundo, sinta-se visto.
E se puder . . . transforme esse silêncio em ponte.
Entre você e o outro.
Mas principalmente, entre você e você, porque isso, também, é amor.
E talvez o amor-próprio também seja isso:
Não sufocar a própria essência pra caber em lugares estreitos.
É honrar o que pulsa mesmo quando parece demais.
É não podar o que floresce só porque disseram que sente errado.
Ser sensível demais nunca foi o problema, o problema foi o mundo que tentou te ensinar a sentir de menos.
Porque, mesmo sendo chamado de “demais”, você nunca deixou de ser, e, no fim das contas, é isso que te faz mais forte.
Então, se isso é ser demais . . .que você continue sendo.
Porque há mais beleza no que transborda do que naquilo que se encolhe pra caber.
Que esse texto tenha sido abrigo, por esse breve momento.
Se alguma frase te tocou, deixa ela morar um pouco aí dentro.
E se, por acaso, esse silêncio escrito fizer sentido pra ti, volta quando quiser.
A porta da varanda continua entreaberta.
Sempre tem lugar pra mais um suspiro.
Com carinho e escuta,
Ale
Se algo te tocou, mesmo que de leve, deixa nos comentários.
Vou adorar saber o que ressoou em você.🍂
A sensibilidade deve ser uma das piores ofensas que existem, né?
Para as mulheres, é parte delas, essa "fraqueza", é esperado que sejamos assim. Para os homens, é como se destruísse tudo que se entende por "homem", logo se torna sobre sexualidade, força e masculinidade. A existência da sensibilidade, ironicamente, destrói os que tentam viver a vida ignorando a tristeza, a dor, o romantismo, a raiva, a felicidade e a cura.
Vi um vídeo uma vez que falava algo sobre isso, que não devemos ter uma má impressão dos ingênuos e sensíveis, pois mesmo após a dor e a rejeição, continuam sentindo demais e tendo certa esperança. Ao meu ver, a sensibilidade e profundidade andam lado a lado, fazendo com que seja mais perigoso ainda para os que são diferentes ⏤ uma pessoa sente e isso vira marca, como se fosse impossível olhar as coisas por olhos apáticos. Assim, não existe essa de fingirmos a casualidade de sermos machucados, de sermos neutros ou algo parecido.
Sou completamente apaixonada pelo sensível, pelo profundo e até mesmo pela confusão que isso gera às vezes, quem vive por essa perspectiva entende mais do que imagina. Muito sensível esse post, Ale, sensível demais! (E isso está longe de ser uma ofensa, é o mais perto que encontro dos elogios 🫠)
Só o título já foi um tapa na cara pra mim